The Last Supper by Vicente Juan Macip. Wikimedia Commons
Por Dr. Mojmir Kallus, Vice-Presidente de Assuntos Internacionais
Traduzido por Julia La Ferrera

“Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus. Falai ao coração de Jerusalém, bradai-lhe que já é findo o tempo da sua milícia, que a sua iniquidade está perdoada e que já recebeu em dobro das mãos do Senhor por todos os seus pecados. Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor ; endireitai no ermo vereda a nosso Deus.” (Isaías 40:1-3)

Há mais de 40 anos, os fundadores da ICEJ escolheram esta passagem profética como diretriz para o nosso trabalho. Esses versículos anunciam uma nova era na história do povo judeu. Após séculos de exílio, perseguição e punição, Deus viraria uma nova página e restauraria Israel de acordo com Suas próprias promessas. Uma restauração parcial havia acontecido antes, após o retorno da Babilônia, mas desta vez há um novo testemunho: a Igreja das nações, chamada a confortar Israel, orar por ela e preparar o caminho para a vinda do Senhor.

Acontece que esta é também uma nova era para a Igreja. Depois de séculos pregando desprezo e ódio contra os judeus, o efeito combinado do Holocausto e o renascimento do estado judeu forçaram os líderes cristãos a repensar sua teologia. Isso abriu caminho para os cristãos examinarem uma herança há muito perdida de nossa fé, ou seja, o pano de fundo hebraico da vida e dos ensinamentos de Jesus, a maneira como os judeus entenderam a Bíblia e guardaram as festas bíblicas e muito mais. Essa nova busca passou a ser conhecida como a busca de nossas raízes hebraicas e do judaísmo de Jesus. Isso é muito encorajado por Paulo em Romanos 11:17-18, quando ele diz que os cristãos gentios “tornaram-se participantes da raiz e da seiva da oliveira… lembre-se de que você não sustenta a raiz, mas a raiz sustenta você.

Um começo óbvio é olhar para as festas bíblicas. Na Páscoa, Jesus foi oferecido como um Cordeiro inocente pelos pecados do mundo, cumprindo a figura profética do cordeiro cujo sangue salvou os israelitas da morte no Egito (Êxodo 12). É um exercício fascinante comparar o costume judaico de celebrar a refeição do Seder na véspera da Páscoa com a história da Última Ceia. Muitas dessas passagens do Novo Testamento ganham vida de uma nova maneira quando as lemos à luz de seu cenário hebraico original.

Também existem paralelos entre os entendimentos judaico e cristão do Pentecostes. Enquanto os judeus celebram a entrega da Palavra de Deus no Monte Sinai, os cristãos lembram a entrega do Espírito Santo (Atos 2). Um precisa do outro: a Palavra sem o Espírito é letra morta, enquanto a verdadeira obra do Espírito sempre será sustentada pela Palavra.

Não é por acaso que a fundação da Embaixada Cristã esteve ligada à primeira celebração cristã da Festa dos Tabernáculos, outra festa bíblica de grande significado mundial. Embora nunca tenha sido celebrado pela Igreja, este festival da colheita de outono terá seu glorioso cumprimento profético na segunda vinda do Senhor.

Muitos outros insights podem ser obtidos a partir do significado bíblico dos meses hebraicos ou das leituras semanais da Torá e dos costumes judaicos de oração. Esta jornada não é isenta de armadilhas, no entanto. Alguns cristãos ficam tão impressionados com a riqueza das tradições judaicas, ou alguns de seus símbolos externos, que correm o risco de perder de vista a singularidade da obra de salvação de Jesus.
Em última análise, há apenas um caminho para Deus por meio de Seu Filho, Jesus Cristo, e da Nova Aliança que Ele estabeleceu (Romanos 3:28). O princípio orientador deve ser o que Paulo escreveu aos Colossenses (2:16-17): “Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo.”

É com esse espírito que convidamos você a se juntar a nós enquanto procuramos descobrir e trazer à tona tesouros novos e antigos (Mateus 13:52).