Temple Mount

Por Dr. Jürgen Bühler, Presidente da ICEJ
Traduzido por Julia La Ferrera

Em nossa última revista, mostramos que Abraão foi talvez a figura mais importante do Antigo Testamento, cujo impacto ainda é sentido hoje. Jesus disse: “Abraão, vosso pai, alegrou-se por ver o meu dia, viu-o e regozijou-se” (João 8:56). Essa declaração apresenta uma verdade intrigante. Jesus indica que Abraão já recebeu cerca de 1.900 anos antes do tempo um vislumbre profético da vida e do ministério de Jesus e que isso lhe causou grande entusiasmo.

O Rei-Sacerdote 

De fato, há vários eventos que deram a Abraão percepções sobre várias facetas do ministério de Jesus. Encontramos o primeiro em Gênesis 14, que contém o que os historiadores dizem ser o relato mais antigo de um conflito armado. Quatro reis invasores (Anrafel, Arioque, Quedorlaomer e Tidal) conquistaram a Terra de Canaã, colocando seus governantes sob submissão tributária. Alguns rabinos veem esses reis como prenúncios proféticos dos impérios mundiais posteriores da Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma.

Durante a conquista, eles levaram cativos, inclusive Ló, sobrinho de Abraão. Mas Abraão empreendeu o impossível. Ele convocou sua milícia pessoal de 318 soldados, perseguiu esses exércitos conquistadores, surpreendeu e derrotou os quatro reis, libertou os cativos (incluindo Ló) e voltou com a recompensa que haviam tirado das tribos cananeias (Gênesis 14:13ss).
 
Então, quando Abraão voltou em vitória, ele se aproximou de Jerusalém (o vale do rei) e “Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; era sacerdote do Deus Altíssimo” (Gênesis 14:18). Esta figura misteriosa, Melquisedeque, era governante de Jerusalém, bem como o Rei da Justiça (que traduz Melquisedeque) e Rei da Paz (Salém). Ele também serviu como sacerdote de El Elyon, o Deus Altíssimo, e abençoou Abraão, dizendo:
 
“Abençoou ele a Abrão e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que possui os céus e a terra;
e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos. E de tudo lhe deu Abrão o dízimo.”
(Genesis 14:19-20, ARA) 
 
Muito pode ser dito sobre essa pessoa incrível, mas a Bíblia não fala sobre Melquisedeque até que o rei Davi surja como outro rei-sacerdote de Jerusalém (ele foi o único rei israelita a ministrar diante da arca da aliança). Assim, Davi profetizou:
 
“Disse o Senhor ao meu senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés. O Senhor jurou e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque. O Senhor, à tua direita, no dia da sua ira, esmagará os reis. Ele julga entre as nações.” (Salmos 110:1, 4-6a) 

 
Nesta passagem, Davi vê o aparecimento de um futuro ‘tipo de Melquisedeque’ que seria elevado à direita de Deus e governaria as nações. O Livro de Hebreus liga os pontos. O escritor o apresenta claramente como uma sombra profética de Jesus, o Messias, que passou pelos céus à direita do Pai, “tendo-se tornado sumo sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.” (Hebreus 6:20). O capítulo 7 de Hebreus então apresenta os muitos paralelos entre Jesus e Melquisedeque, e conclui: “Ora, o essencial das coisas que temos dito é que possuímos tal sumo sacerdote, que se assentou à destra do trono da Majestade nos céus.” (Hebreus 8:1)
 
Ainda hoje, Jesus está diante de Deus intercedendo em nome de cada crente. Então, assim como Jesus disse, podemos ver como “Abraão viu o meu dia e se alegrou” quando voltou da batalha e encontrou Melquisedeque no vale do Rei.

O Dia do Senhor 

Há outra ocasião em que Abraão viu o dia de Jesus. Gênesis 18 registra que três homens apareceram a Abraão (muitos teólogos dizem que eles representam a natureza trina de Deus), e um o informou que dentro de um ano ele teria o filho da promessa em suas mãos. Quando os três deixaram Abraão, o mesmo hesitou, dizendo: “Ocultarei a Abraão o que estou para fazer.” (Gênesis 18:16ss) 

O que aconteceu a seguir foi o justo julgamento de Deus sobre as cidades de Sodoma e Gomorra. Nesta passagem, Abraão negociou notavelmente com Deus, mas no final nem mesmo dez justos foram encontrados nessas cidades pecaminosas. “Tendo-se levantado Abraão de madrugada, foi para o lugar onde estivera na presença do Senhor; e olhou para Sodoma e Gomorra e para toda a terra da campina e viu que da terra subia fumaça, como a fumarada de uma fornalha.” (Gênesis 19:27-28).
 
Em Lucas, Jesus relembrou o julgamento de Sodoma e Gomorra, dizendo que os “dias do Filho do Homem” serão como os dias de Ló (Lucas 17:28-30). Abraão, de certa forma, teve um vislumbre do fim dos tempos. Ele viu como será no grande dia do Senhor quando Jesus voltar. Como nos dias de Ló, Jesus disse que as pessoas viverão vidas superficiais de prosperidade e egocentrismo, então o julgamento repentino virá. Num sentido muito real, Abraão testemunhou a severidade do justo julgamento de Deus.
 
Uma coisa podemos aprender com Abraão: ele não se submeteu fatalisticamente ao julgamento anunciado, mas ficou na brecha, intercedendo fervorosamente por um mundo perdido. Da mesma forma, o profeta Joel implorou: “Quem sabe se não se voltará, e se arrependerá, e deixará após si uma bênção…” (Joel 2:14a). Sigamos o exemplo de Abraão; ao vermos o terrível dia do Senhor chegando, vamos interceder por um mundo que amadureça para o julgamento de Deus hoje.

O Dia da Redenção 

Finalmente, o maior momento da vida de Abraão ao ver “meu dia” é relatado em Gênesis 22, na história do sacrifício de Isaque. Foi um teste muito difícil para Abraão. Deus lhe ordenou: “Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto…” (Gênesis 22:2). Abraão respondeu imediatamente. De manhã cedo, ele partiu e “Tomou Abraão a lenha do holocausto e a colocou sobre Isaque, seu filho…” (Gênesis 22:6).
 
Este é o momento mais profundo da jornada de Abraão. Aqui, a vida de Abraão tornou-se pessoalmente entrelaçada com os propósitos eternos de Deus. Ele experimentou uma projeção profética do que aconteceria 2.000 anos depois, novamente no Monte Moriá, quando Deus daria Seu amado Filho unigênito para redimir o mundo. A dedicação sacrificial de Abraão aos propósitos de Deus refletia o próprio caráter de Deus, que estava disposto a dar tudo de Si para salvar o mundo. Ao ver seu filho subindo a ladeira com lenha nas costas, Abraão também viu Jesus de Nazaré carregando a cruz para dar a vida eterna a todas as famílias da terra.
 
Há dois pontos que gostaria de destacar nesta notável cena profética: Podemos apenas imaginar Abraão subindo penosamente a montanha. No entanto, uma centelha de fé emana de sua garantia profética a Isaque: “Deus proverá para Si o cordeiro…” (Gênesis 22:8). Isaque já estava deitado amarrado sobre o altar quando um anjo do Senhor parou Abraão, e ele viu um carneiro preso em arbustos. Abraão recebeu um carneiro sacrificial, (ay’il em hebraico) – um carneiro adulto, com chifres. Então, 2.000 anos depois, Deus providenciou o cordeiro prometido (seh em hebraico). Este inocente Cordeiro de Deus, um descendente direto de Abraão, levou os pecados do mundo para todos os que confiam nele (João 1:29).
 
Em segundo lugar, quando Abraão subiu ao Monte Moriá com seu filho, ele não apenas foi obediente ao máximo, mas também confiou que Deus ressuscitaria Isaque dentre os mortos (Hebreus 11:19). Desde o início, ele acreditou que eles voltariam juntos da montanha. Então, de uma forma muito real, Abraão recebeu seu filho de volta dos mortos.
 
Abraão compreendeu de antemão o grande significado da obra redentora de Jesus, ponto central da história da salvação. No Monte Moriá, onde Abraão declarou que Deus proveria, o Senhor realmente providenciou o perdão dos pecados, liberou o poder da ressurreição de Deus e abriu um caminho de escape do julgamento eterno de Deus naquele grande e terrível dia do Senhor.

Abraão, de fato, olhou para frente e alegremente viu ‘meu dia’. Oro para que todos possamos olhar para trás e ver isso também! Yeshua é o nosso Sumo Sacerdote Real que está sentado à direita de Deus, intercedendo por nós. Ele também é Aquele que um dia virá para julgar os vivos e os mortos (1 Pedro 4:5). Então, regozijemo-nos no Cordeiro de Deus que perdoa nossos pecados e nos oferece Seu poder de ressurreição ainda hoje.